terça-feira, novembro 28, 2006

trecho (sem começo, sem fim - 1.º tratamento)

do fundo desta carcaça sofrida
cultivo o fascismo parasita dos homens
nos rostos, cada um página lida
que logo mastigo, cuspo e digo adeus

como neste mundo não vale a pena
a sorte de conhecer nenhum ser
- embora os rostos que leio,
me povoem sempre ensejos -
é com desprendida alegria
que largo tudo à revelia.

quarta-feira, agosto 30, 2006

dito popular

para bom poeta
meio haikai

quinta-feira, agosto 24, 2006

uma linda história cristã

sim, eu estava lá
junto aos brutamontes
deste lado de cá
a diferença grande
é que eu queria jogar a pedra no cristo
e levar a puta embora
mas o filho da puta, mais rápido e cético,
jogou antes.

terça-feira, agosto 22, 2006

Samba da Eli (para minha amiga Eliege, rs)

ê nega, vem pra mesa
que por trás destes óculos vermelhos
eu sei teu sorriso, esta beleza
a contaminar os ensejos
de mais uma noite de samba
neste bar com jeito de terreiro.

levanta teu copo!
e deixa a gente ouvir
esta risada matreira
na noite que há porvir.

mas toma tento, Eli!
você há de convir,
tanta felicidade desse jeito assim
não é freguesa aqui

pôe teu coração na mesa
e não deixa que ninguém veja
assim a gente canta mais uma
e te vendo quieta, se atropela
se arruma e pega tua tristeza
pra jogar no olho da rua

e o que que há, nega maluca,
nosso samba pergunta
"é noite de boiadeiro", você resmunga
o coro responde:
"que nada, é toda toda tua!"

mas toma tento, Eli
você há de convir,
tanta felicidade desse jeito assim
é bem vinda aqui sim!

terça-feira, junho 20, 2006

a primeira vez a gente sempre esquece (1.ª idéia)

quando um louco surtado olhou em meus olhos,
na aurora dos meus passos de bêbado,
eu não vi nada mais do que a lágrima triste de um palhaço
que havia em mim mesmo.
e o palhaço, na lágrima solta, ria sem medo
porque na ponte que ali havia
minha alma encontrava a dele e dele dizia
que das dores que vêm do mundo ainda é cedo.
quando eu louco surtado me vi no espelho
anos depois da aurora de meus passos trôpegos,
perguntei a quem me fitava onde estava a ponte.
com terror ele não falou nada, apenas se afastou,
pouco a pouco se deitando
sem saber muito bem se alguém havia
lhe perguntado algo.

quinta-feira, março 30, 2006

Chicó de Anasé!

porra! estou feliz pra caralho! um contato ali, outro aqui, conversas intermináveis, uma procura desenfreada e...voilá! finalmente consegui adquirir meu exemplar do "Do pó me levantei, na terra me deitarei", o único livro de poesias do mestre chicó. paguei quarentão por um livro com um pouco menos de 100 páginas e mandei vir direto do mato grosso do sul, mas porra, valeu o esforço. é uma raridade de valor incalculável. estou aqui folheando com sorriso de ponta a ponta. mas enfim, o post de hoje dedico ao grande mestre, com duas poesias dele.

DESABROCHAR DE UM BÊBADO

Matagal sem fim proclama minha hora
Da horda infame augusta garrafa em rolhas de órbita
O vôo alto, o giro é meu!
Que do gole estrondoso virei borboleta
E desde então nunca mais consegui planar em linha reta.

QUANDO APRENDI A SOFRER

Nas agrura da vida fui crescido
Por ser demais olhador
E também senti o amor
Por causa do qual tenho sofrido
Te digo meu cumpadre, é duro esta história
Que entre um gole e outro estou a contar
Mas vá lá, o amor e o pescador tem lá sua glória
Como é este meu causo de mesa de bar:

Meu primeiro amor foi uma tal de Cândida
Uma vaca mui respeitosa do pasto de meu avô
Tão cheinha e formosa como a beleza pedida
E não pense que era de muitos caprichos meu sinhô
Era só uma estocada e pum!
ela já mugia dizendo Eu ti amum!
Mas, contratempo - venho meu predecessor
Matou Cândida e da sua carne fez seu motor
Que de bexiga e intestino cheio é que vive o tal do homem
Chorei e chorei por muitas primavera então
Sentindo o que é sofrer de descer lágrima ao chão
Mas, o que me doía, não era falta de Cândida não;
Era ter conhecimento, para minha sensatez
Que Cândida passou pelo espeto duas vez.

Chicó de Anasé

terça-feira, março 28, 2006

curitiba, sua filha da puta (1.ª e rudimentar versão)

curitiba, minha cara
os poetas estão nascendo no teu seio raro
estão bebendo do teu leite amargo
nas esquinas de todos os bares

olhe pra dentro de nós
porque estamos
olhando através de você
as palavras que amamos
enquanto morremos

os verdadeiros poetas
sabem como te acariciar
com um pinto por debaixo das pernas
e não uma mesa e os óculos em cima da mesa

cidade maldita, você não é poesia
apenas escreve certo por calçadas certas
a vida torta dos heróis à revelia
vive ao avesso
a contradição perfeita de suas avenidas

o futuro póético
está nos teus botecos,
na sarjeta,
nos caminhos incertos
de sua madrugada de silêncio
gritada aos ventos

na praça tiradentes
os anjos caídos dormem
a insônia das latas
o gole tira a fé dos crentes

os poetas querem recitar:
mas você enrolou a língua deles

curitiba, sua filha da puta
fica comigo...
e me transforma em poeta também.

terça-feira, março 14, 2006

uma de nossas noites (1.ª versão)

é uma noite fria
dentro de nós dois
caminhando na calçada confusa
escurecendo pensamentos e versos
apagando sem perdão
a tempestade que grita
morrendo nas minhas mãos
não resta coração
nem briga
nem um abrigo
pros meus erros
na noite fria
nada se cria
entre eu e você
distância de lábios e estrelas
pra se percorrer
cegos na direção

a noite desmaia em teus braços
enquanto velo teu sono
com a lua dos meus sonhos
debaixo dos olhos

a noite medrosa
comanda teus segredos
quando te deseja
se machuca embora
saiba a resposta
de todos os teus desejos

a noite sem você
é um colírio estranho
alivia os olhos
mas irrita a alma.

domingo, janeiro 29, 2006