sábado, agosto 16, 2008

Resgates dos mitos populares da infância ou a sabedoria do folcore do terror n.º 3

O mão preta se recosta no sofá, estrala os dedos rapidamente e com modos sombrios nos comunica por meio de L.I.B.R.A.S:
A geração 90 é a última que vai poder dizer uma coisa do tipo “nos meus tempos de infância eu brincava nas ruas, ficava sentado na calçada, em frente ao prédio às 3 h da manhã”. O caos e o terror paranóico são coisas do começo do século XXI. Lógico, houveram manifestações curiosas do fenômeno há mais tempo, mas tais o eram apenas como precursores. Naquela época, você conversava na calçada com seus amigos imberbes, simplesmente curtindo os ruídos da madrugada, sentindo aquele mistério ainda não desvendado da noite. Hoje, o mesmo prédio está com cercas e interfones, e se você sentar encostado no portão ou na calçada, vão pensar que você é um traveco ou garoto de programa (se homem) ou puta (se mulher). Existirão seguranças emburrados fazendo ronda de dois em dois pelas ruas ao redor por causa daquele hospital que tem na frente do prédio, mais antigo do que você próprio. É terrível pensar no crescimento das cidades e que estes são OS tempos novos. É um mundo pervertido, insano. O mão preta estica o pai-de-todos e o fura-bolo na beira da janela, com o cata-piolhos, o mindinho e seu vizinho apoiados no sofá. Está pensativo. Um grande silêncio se impõe.