quinta-feira, julho 19, 2007

A malandra, visceral e genial poesia de Jorge Barbosa Filho

Bom, como deve ser, mencionei Jorge no meu texto abaixo, mas fiquei devendo a apreciação do que é sua poesia. Pois bem, corrijo a falta aqui e publico um de seus mais recentes poemas, seguido de algumas apreciações sobre sua poesia.
meu anjo da guarda
me pegou cagando
para Vanderlei Weschenfelder, a escultura

meu flato fanho assobia
uma melodia gasosa
com suas flores amorfas.
e em sua epifania
(nem de ontem ou agora),
a gula viva de outrora
anuncia minha intestina
agonia infinita.

véspera de hecatombes
onde, entre os homens,
borbulho o que sinto
e invejoso me vingo
de seus horizontes.
o ar de suas alegrias, definho
sem jeito, como ou aonde,
solto mil bois divinos.

infesto a eternidade
com odor duvidoso
de tênue bondade,
mas cobiço as beldades
e os tesouros dos outros.
quando pensam que dôo
a lei da gravidade,
flutuo, explodo,

espalho meus vícios
por todos os poros
e se a alma expio,
relaxo com reforços.
se existe o difícil
(é disto que eu gosto),
desloco o impossível
por isto me borro.

a comédia divina
percorre minhas vísceras
em onírica soberba.
como reza a bíblia,
sem eira e nem beira,
da cósmica poeira chega
e fina o que se destina,
a merda em suas bigas

no cu do mundo,
na casa do orvalho,
o jardim das delícias, fundo
e afundo no ato falho,
alhos com bugalhos.
meu desejo confundo
ao todo confuso,
lúbrico no sanitário

esqueço onde estava
e pelo espaço errando,
caíram minhas máscaras
no vaso urrando
só, na ira, não podia nada,
isto foi quando
meu anjo da guardame pegou cagando.
Três apreciações sobre a obra de Jorge Barbosa Filho
1) nada fácio prefácio
...nem limão, nem lisérgico: ácido! Jorge Barbosa Filho arranha com palavras de aço nervos de prata. Lustra ouro esfregando-o bruto no couro e tirando couro da hipocrisia e da covardia da manipulada mídia. Sua poesia não fantasia azia: aziaga quem tem sorte comprada, esfregando na cara a vergonha vazia da burguesia. Qual adaga afiada, fia na carne seu filete de sangue: sangra Capta e rapta os valores do mundo, indo fundo e fundando um fogão para cozinhar diamantes e pérolas. Com esse poeta, toda palavra é pouca, fica rouca e esvai-se à poesia muito louca.
tavinho paes
2) A poesia de Transcendência zero é direta feita um não. E o monossílabo vem, assim, na cara. Mas é um não que tem ginga, malandragem, rodagem... E isso diferencia essa poesia daquela que costumo dizer por aí que já me encheu o saco (aquela dos falsos marginais que... bom... deixa pra lá... fica pra outra, pois aqui não há espaço e fecho logo esse parêntese). Sei me contemporizar com a malandragem de um poeta. Identifico (pelo vorticismo poundiano da imagem refletida no acoplamento de espelhos), indícios de pelo menos dois tipos de malandragem poética. Primeiro: Glauco Mattoso. A ausência da forma (ou “fôrma”, como o próprio Glauco me disse certa vez em São Paulo, recém-cego e com a cara lambuzada de maionese vinda de um lanche “beirute”), o que não é necessariamente um problema, considerando que muitos poetas simplesmente caem do cavalo ao tentarem domar a poesia pela técnica como se o bicho fosse domesticável, e, deste modo, aqui, passa a interessar que o verso igualmente desboca, abre as pregas e expõe as firulas da literatura, do status quo, da vida e escancara o que, particularmente, mais me agrada: o quanto a poesia não é literatura. Bufem à vontade, nobres leitores, mas poesia não é literatura.
Aliás, é o que liga a malandragem da poesia do Jorge Barbosa à malandragem do outro malandro, o segundo: Aldir Blanc. A faísca deste gênio da poesia cantável feita de becos & bares & bebedeiras, o autor soube traficá-la para os seus poemas sem perder a devida originalidade. Justamente porque o autor esbanja vadiação. O samba do subúrbio, que rodeia a bela Rio de Janeiro e respira nas entranhas da música brasileira está neste livro que está nas suas mãos, caro leitor. Aproveite bem essa poesia, entra com tudo neste livro e só saia dele cantarolando. Dou até a dica. Que tal o talvez melhor poema-samba do livro: “Que diabo é esse?” Uma palhinha: “um poema com o diabo no corpo / fuma as encruzilhadas, / entre a escrita e a fala / acende versos negros / e reza ciladas.” Demais, não? Um brinde ao Jorge, o último marginal!
Ricardo Corona
3) Carta de Jaques Brand a Jorge B.F
Tive a ocasião de conhecer os "Buquês de Alfafa"(Leprevost e França mos deram um exemplar, avaramentedisputado a tapas) e fiquei pasmo com a altíssima tensão e ironia poéticas de praticamente todos os poemas. Cara, Vc é um artista de primeira grandeza!Aliás reencontrei um poema que já havia visto num jornal da faculdade há anos, na companhia de um do Koproski, e já na época havia admirado extensa eintensamente, aquele da mijada, da lua tola lia minha distante caligrafia. Mas mão o associava à sua assinatura. Um dos efeitos da leitura dos "Buquês" foi aumentar o meu sentimento de culpa por não tê-lo recebido de braços abertos, digamos assim, por ocasião dos trabalhos do Jornal da Biblioteca. Meu único álibi é que eu não sabia que Vc era um poeta assim porreta!Parabéns, se é que a grande poesia merece conhece esse tipo de reconhecimento. Puta que o pariu, o Jorge Barbosa é um Poeta maiúsculo,superlativo.
Abração de Ano Novo e de todo o tempo, com os melhores votos e a admiração do Jaques Brand
Portanto, leitores do blog, quem tiver oportunidade, procure se informar sobre o Poeta!

segunda-feira, julho 02, 2007

Elogio ao Ódio

Isto não é um poema. Tampouco uma prosa, ou qualquer merda literária-artística ou com pretensões vagas de escritor como existem aos milhares por aí, pensando que escrever bem é ser pernóstico, lidar bem com a linguagem (e não dizer nada) ou dizer mal e porcamente qualquer coisa disfarçada pela máscara do "bem-escrito-dito" que cheira mais à fedor acadêmico (no mal sentido - existem fedores que ao menos incomodam positivamente), aquele fedorzinho que vc sente de pessoas que escrevem para si mesmas, na base de contemplarem suas próprias virtuoses e gozarem pasmos com o resultado). Isto tampouco é um manifesto anti-escritores-panelinha ou pseudo-escritores-exibidos, como ah droga, tenho de denunciar aqui, existem aos milhares por aí (mais uma vez, aos milhares!). E nesta merda de província, uns chupando o pau dos outros enquanto outros, ditos "I´m a lonely guy", bebendo e reclamando da vida pelos bares, vivendo papéis medíocres que não cabem dentro de si mesmos, porque são meros PAPÉIS e não personalidades, achando que tem alguma coisa de maldito, de outsider, de revolucionário, de principesco, e depois de todo discurso inflamado e dos atos estúpidos e sem sentido, dos quais não se poupam ninguém que esteja ao lado porque o egoísmo (humano e cultural) é tanto, voltam para suas casas protegidos, bem alimentados, com cama, papai, mamãe, um antro fantástico para a masturbação ganhar força novamente. Nada contra. Nada mesmo. Este não é um texto contra. Um escritor não deve ser necessariamente um sofredor ou chupador de poeira de meio-fio. Mas hipócrita, nunca. Falso, nunca. Se sim, que escrevam maravilhosamente bem, porque, não queria admitir, o talento sobrepôe várias merdas que existem. O problema, portanto, é o volume de MENTIRA na literatura que existe por aqui. Falta força, falta autenticidade, falta carne, vísceras e talento. Eu não queria, novamente admitir, mas é necessário entrar no clichê: não existe qualidade na literatura neste mundo atual, nesta província atual, salvo raras e preciosas exceções (e aqui não vou citar o nome de Jorge Barbosa Filho, que deveria ser considerado um dos maiores poetas brasileiros dos últimos tempos justamente por dar fôlego ao que já estava afogado, nome que deveria estar no país inteiro, pela força, individualidade e, sem exagero, reinventar a poesia brasileira - não cito porque não quero ser como os outros citando os amiguinhos sempre GENIAIS e M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O-S). Bem, e se alguém ler isto daqui e a carapuça servir (isto SE lerem, não faço nem idéia da popularidade desta joça, mas alguns parcos leitores devem haver), lá virão, por escrito ou por aí, aqueles comentários já conhecidos: "quem é este cara?", "quem ele pensa que é?" "ele deve se achar o maior escritor...mas puta merda, que merdas de contos ele escreve...e as poesias? Putz, lixo e lixo", "Ele diz que a gente faz, mas ele acabou de fazer ao elogiar um amigo e ainda ao fazer todo este protestozinho clichè de gente mal-amada". É, vocês têm razão. Mas, como eu já havia dito, isto aqui não é um poema, prosa nem anti nada. É um elogio ao ódio. Ao meu ódio. E com ele vivo bem, obrigado, enquanto tudo continua na mesma, aí, no mundinho de vocês.

P.S - Ah, e eu realmente escrevo bem sim, amiguinhos!