quarta-feira, dezembro 08, 2010

Mais do Jorge Barbosa

Enquanto este que vos escreve mantém-se inútil e estagnado em matéria de criação cultural, outros poetas estão colocando a mão na massa: com vocês, mais um poema de Jorge Barbosa Filho.

Nossa Senhora dos Capilares

Sou o lobisomem

devoto de Nossa Senhora dos Capilares,

a única que acha cabelo em ovo.

Ela é de origem portuguesa

e sua epifania se deu numa barbearia.

Tem pelos nas costas, usa bigode.

Uma Santa que nem o diabo pode.

Drag Queen beatificada,

padroeira dos bichos hisurtos,

dos hippies e das vassouras de pelo.

Santa de dar inveja aos carecas.

Pois tem vários cipós debaixo do braço,

perucas nas pernas e cultua suíças.

É a Santa que o Tarzan cobiça!

Nossa Senhora dos Capilares! Orai por nós!

Sua primeira oração foi “As Mentiras Cabeludas”

e posteriormente, “Sabão Cra –Cra”.

Protetora dos pelos do nariz, tufos na orelha,

da família circense, em especial, da Mulher Barbada.

Uma Santa de arrepiar os cabelos,

mas pelo sim e pelo não

é a Santa de minha devoção.

Bento Pinto dos Santos

(Jorge Barbosa Filho )

sexta-feira, agosto 06, 2010

O diabo loiro está de volta!

E eis que o Jorge me envia um de seus novos poemas. E pelo jeito ele continua botando pra fuder. Segue:



flor de lisboa


(para Ana Griffo Antunes Coimbra)


perguntei por cantar
por que canto?
enquanto encanto a dor
num espanto!
luas e sóis na minha voz
e a canção por um fio.

ah! fina flor de lis boa
ah, na boa, coimbra!
és leve águia e leoa
e soas entre as sílabas.

teço teu fado alado
por isto grifo teu mito
e teu sorriso de fato
finda meus conflitos,
a fúria dos ventos impunes
ante a tudo, que antes unes...

ah, naquilo que musico
há! ana, ana griffo
dá-me o teu charme castelã
deixa-me rei dos teus fãs.

oceânicas peguntas!
cavalos marinhos
acesos em nossas bocas,
azuis, azuis, azuis do mais íntimo
do espelho que despe-se a toa:
nunca vi tantas mulheres numa!

ah! braços de porto e gal
à sombras de caetanos
e caravelas amamos
em nossas praias de mel e sal.

contemporaneamente antigo,
é meu beijo de porquês,
pois este poema é um jeito
de viajar um pouco contigo
sem que as malas as tenha feito
assim te amo em português...

Jorge Barbosa Filho




quinta-feira, julho 29, 2010

Lirismo alheio

Terceito autor (neste caso "a") que publico aqui no blog, vale a pena conferir o blog de Vanessa Rodrigues: www.vanrodrigues.wordpress.com
Um magnânimo exemplo de lirismo segue no texto a seguir, em que a autora alcança um patamar invejável de simbolismo e significado.

poética da concha

o bicho mais mole cria a concha mais dura, na medida exata de sua existência . expele o mal
rodeado em madrepérola. o mais inofensivo é o mais impenetrável dos bichos da
praia.

e é de dentro para fora que constrói essa casca. e do segredo de sua natureza, do mistério
daquilo que é feito, ele forma o concreto de sua cidadela.

mas só cabe um em sua fortaleza miúda.

- Vanessa Rodrigues -

quinta-feira, maio 20, 2010

LOKO DENIS E O MOMENTO METAFÍSICO

Pintura por Maria Luísa C. Fumaneri, 2010. Técnica: pincel de Paint.

Joaquim pegou o prato de apoio do pires e, com as unhas, começou a arranhar e arrancar pedaços da parafina acumulada pela queima de diversas velas. Loko Denis acompanhou o processo com olhos curiosos e inquisitivos. Focava-se na mão, em todos seus movimentos bruscos, os dedos grossos e as unhas ligeiramente sujas, empurrando com desajeitada força os tocos brancos. Naquele breve momento de reveladora filosofia, Joaquim falava – pausadamente – amenidades que Loko Denis não quis ou simplesmente não ouviu.
Pensava que numa situação dessas ele não saberia o que fazer, simplesmente não teria o conhecimento para saber que, para tirar aquele amontoado de cera branca de um prato deveria ser necessário arrancá-lo com a mão, e não com o uso de um detergente e um Bombril, mesmo pelo motivo de que apenas isso não funcionaria. Nesse momento, Loko Denis descobriu que nada sabia sobre a parafina da vela e, praticamente, nunca havia tocado uma antes. E isso demonstrava o quão sábio Joaquim era, tão somente pelo conhecimento empírico que acumulava. É lógico que essa percepção não vinha a Denis dessa forma, mas sim em códigos mais modestos, talvez suficientemente simbolizados pela figura do herói e da qualidade empática da admiração e a consequente afeição indefinida. Indefinida porque não-afeição, por mais paradoxal. Mas longe de compreender, Denis não precisa compreender. E, quando mais tarde, mais maduro já a caminho da meia-vida, meditava sobre o período, gostava de pensar se as pessoas mais jovens que o conhecessem agora também teriam essa percepção de sua própria figura, quando levantasse e jogasse fora os tocos das velas ou qualquer outra ação aparentemente banal e desinteressante, mas enquanto detalhe, figurava sublimidade inexplicável, talvez comparada ao vazio e preenchimento (!) da divulgação da Teoria do Caos, e, assim, essas pessoas achariam que ele era um homem sábio, um cara vivido, um cara com MUUUITO conhecimento empírico para dar. Nesta época viria a ter uma resposta.
O que importa é o tempo presente. E neste, Loko Denis saíra de seu repentino e profundo transe, porque Joaquim já terminara de jogar fora os tocos e acendia uma nova vela, deixando cair a cera quente sobre o prato e firmando-a.

quarta-feira, abril 28, 2010

TRAUMA

O maior herói que eu já desmistifiquei
foi eu mesmo.

terça-feira, março 30, 2010

NÃO HÁ NADA

Sim, companheiros. O encosto avançou novamente. Nada a falar por enquanto. A batalha ganha novos rumos, ainda indefinidos.

Como diria um amigo eu, assalamom!

E boa sorte a todos. Fiquem londe das drogas, camaradas.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Poema novo de Jorge Barbosa Filho



Eis mais um poema de Jorge Barbosa.

Visite também http://www.myspace.com/jorgedoiraj

não me ame nunca


não me ame nunca
dizem, sou muito perigoso,
pois se te beijar a nuca
acabo te roendo o osso

da tua doce espinha
falam, é a minha arma,
pra me valer nas esquinas
e chegar ladino em casa.

não me ame nunca
dizem, sou muito pirado,
meus carinhos nas luas
não valem nenhum trocado.

acho que minha fama
não é assim tão pequena,
gritam, que só valho a pena
quando te levo pra cama.

não me ame nunca
dizem, sou muito bandido,
roubo sua alma e chuvas
e depois acabo fugindo.

perca a esperança então
rezam, sou homem e menino,
brinco pelo seu coração
que bate sempre arrependido.

não me ame nunca
dizem, que você me ama
enquanto tudo te espanta
não me ame nunca.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

FMAN B-SIDES

Depois de certa ausência, volto com mais um infame FMAN B-SIDE, os textos obscuros de uma época mais obscura ainda...com mais um poema que meu cérebro não recorda ter escrito.

(e novamente, pra quem não sabe do que se trata a série, procure o primeiro post)

a nossa música a gente inventa
conforme o tempo partido
de nosso amor assente
um poema de amor ferido
carta sentimental passada
nós escrevemos qualquer dia desses
enquanto esperamos tudo passar
ou mesmo na noite antes de despertar
nossas fúrias e desinteresse
o vazio da saudade
este acordará no tempo certo
de um tempo que lembramos perdido...
para sempre.

***
Pois é. A tosqueira continua.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

GENIAL

Bom, para evidenciar o meu ódio ao evangelho do vegetarianismo (vejam bem, antes de me encher o saco, tenham em mente que não tenho nada contra àqueles que têm essa opção, respeito é tudo; cada um tem o direito de comer o que quiser - o que me fode é aquela atitude comum à recém-gays, recém-evangélicos e vegetarianos que te olham com nojo porque vc lambe o sangue de uma picanha suculenta, que tentam a todo custo te converter e te impor a verdade de sua verdade), posto aqui uma pichação genial encontrada perto de minha casa, que ilustra bem o que penso:


CARNE É CRIME

(e logo ao lado um outro cidadão, que imagino melancólico e muito perspicaz, escreveu:)

FOME É FODA

Du caralho. Neste pequeno terrorismo poético urbano ele resume tudo. Não vou explicar minha interpretação. Isto fica pra cada um.
E volto a dizer, respeito e admiro a fundamentação argumentativa dos vegetarianos, mas não venham me encher o saco. Gosto de carne, já vi todas as atrocidades cometidas contra animais, mas, sinceramente, não me tocou de forma tal a me impedir de saborear seus corpos. Cadeia alimentar é cruel - poderia ser menos, é claro, com métodos mais adequados e menos atrozes.
Enfim, é isto. Preguiça de levar mais adiante.