quarta-feira, junho 01, 2005

estranhas reflexões numa noite de quarta sobre pessoas e a busca pelo inferno

muitas pessoas, às vezes até muito próximas, vêm até mim querendo conhecer o "submundo". buscam a degenerescência, a decadência, o limiar, aquela fronteira invisível entre a sanidade e o descontrole, este descontrole gerado pelas privações as mais diversas. elas querem conhecer A Perturbação, porque se sentem melhores consigo mesmas, se sentem fortes diante de seu mundo plástico e falso, isto lhes tira a culpa de viver à margem do que realmente é, à margem de toda podridão e excreção. o problema é que isso nunca vai vir até eles, porque eles realmente não têm A Perturbação dentro de si. uns poucos a têm, mas nunca tiveram culhões de destrinchá-la com a necessária dose de honestidade e penetrarem no âmago da situação toda. costumam julgar e culpar todo tipo de ato que fuja às diretrizes normais de uma sociedade perfeitamente moral. "oh, meu deus, como ele pôde fazer uma coisa dessas?" é uma pergunta pertinente em seus cérebros enojados ao verem um ser demoníaco assumir uma atitude infantil diante de um estímulo razoavelmente supérfluo, como agarrar uma garrafa e sair em busca da jugular do garçom que lhe pediu pra baixar o tom da voz diante de uma mulher porque estava assustando os outros clientes ou mesmo perturbando o estupor dos outros bêbados de almas sugadas. a verdade, como um amigo meu já me dissera, é que eles têm a vontade de fazer tudo ou quase tudo o que estes degenerados fazem, mas lhes faltam culhões. eles queriam testar seus próprios limites em busca da revelação e verdade e de uma existência humana mais digna e autêntica, mas isto provavelmente iria contra os parâmetros da normalidade e do aceitável, o que inevitavelmente provocaria conflito e dor. então conhecer alguém que lhes proporcione este contato indireto com a realidade parece lhes deixar satisfeitos e bem consigo mesmo. provavelmente dirão: ok, eu conheço esta raça, eu sei lidar com eles, eu sou foda, me respeitem, eu não estu por fora. de qualquer forma não é uma escolha muito sensata buscar o inferno nos dias de hoje. pode-se encontrar o diabo em pessoa e o mais terrível é ter consciência de que ele pode ser VOCÊ mesmo.

Um comentário:

Alexandre França disse...

Muito bom o texto, ein Fillipo. me lembrou um pouco as conclusões que um dia eu tirei depois de ver o filme "Clube da Luta". Só que este desfecho que vc deu é muito mais circular e "pé no chão" do que o do clube. Parabéns e não páre de postar estes seus textos (sempre tem uns doentes, tipo eu, que gostam de ler e sempre acabam visitando o seu site, heheheh)

Um grande abraço