domingo, julho 05, 2009

Carta terceira

Obs.: Caros leitores, peço o obséquio de lerem esta e as últimas duas postagens para compreensão do que está acontecendo. Tive de postar as três cartas uma atrás da outra porque elas chegaram rapidamente e eu estava sem internet para postá-las.
Chegada
"Albert:
Bem, cheguei... Estou dentro do internato, onde fui muito bem recebido pelos meus parceiros de sorte... O inferno, até agora, não é assim tão ruim.
O Pastor me liberou os livros de poesia que o Bruno me emprestou, meus textos de poesia que trouxe pra cá, liberou que eu escrevesse e também que meus textos possam sair da Instituição. Isto é ótimo, meu amigo! As coisas estão, apesar de tudo, caminhando...
Obviamente tenho de cumprir os mandamentos de Jesus, dado como terapia obrigatória da casa. Cuidar de banheiro, cozinha, pátio, quartos e rezar, rezar, rezar, rezar, com três ou quatro altos por dia. Haja!!!
Pra você entender, estou preso com companheiros, na maioria adolescentes que para se reabilitarem, seguram no saco de Cristo: terapia dos pentelhos divinos! São loucos que se apaziguaram e precisam de lago para acreditar ou segurar.
Amigo, estou bem. Gostaria de estar tocando minhas coisas ai fora, em liberdade, escutando as músicas que quero. Tudo bem, já as decorei, estão dentro de um verdadeiro “bar dentro de mim”, onde não há credores ..para me importunar, nem os desgastes físicos, afetivos e emocionais, não há a “inteligência cluber” dos inúteis e caricatus “artistas curitibanos” pra me sacanear!
Neste bar, feito de papel, linhas, tintas e memórias (já que o tempo na instituição é parado), dialogarei com várias reflexões que versarei sobre cultura, pessoas, instituições, políticas e suas interseções. Histórias dos filhos-da-puta, dos traíras, dos oportunistas, dos babacas, mas também, histórias dos bons, dos melhores, dos exemplares. Albert, gostaria de lembrar que “não existem feitos, apenas versões”.

Para não enlouquecer aqui, falei os falsos e verdadeiros, do SIM e do NÃO, do MIM e do SÃO.
Então Albert, viva aos poetas de janela que nunca botaram o pé na vida; viva as mulheres de Curitiba impaludadas e angelicais que são devassas na cama, fazendo seus maridos secarem roupas entre os chifres; viva aquela mulher corneada que saqueia os bens do amante e o impede de ter acesso ao seu computador, instrumento de trabalho; viva a papuda! Viva aos meus amigos que são amigos de meus inimigos; viva aquela que se diz “empresária” e divulgadora da “cultura” e sua vagina; viva esta puta que rouba o dinheiro de seus otários; viva o amigo (da onça), que vive com seu papai e mamãe, é cagão, não sobe no palco, e ainda, descansa seu saco no sucesso dos outros; viva os artistas que morrerão de tétano por não terem cortado o cordão umbilical e fazerem Arte, a Arte “que não abre concessões as facilidades”.
Como diz o poeta: “Assim até eu!”, né Thadeu?
Albert: por favor, bate a máquina pra cuidar, para desespero dos meus inimigos ou quem quis me calar.
Obrigado por tudo, mande um abraço para nossos comparças ai fora, um beijo pro meu irmão, e um beijão pra mulher que amo!
Valeu!

beco
sem bandeira ou beijo
pela passeata do desejo
empunho as certezas
que descreio:
o país que não vejo,
o amor que não veio,
a palavra que não tenho.
na multidão, aflito
prorrogo o meu grito
e o ritmo das estrelas.
assisto,
meio esquisito,
ao fogo do meu signo
dentro do labirinto
sem fim e sem começo,
tudo aquilo que tento
é beco.
e que assim seja,
sair da vida cedo,
amanhecendo
com o coração aceso.
Jorge Barbosa Filho"
Só lembrando o site do Jorge: http://www.myspace.com/jorgedoiraj

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