A véia Coró se espreguiça na janela, coça um saco imaginário, cospe no chão. Dá uma olhada lá pra fora, arrebitando os beiços carcomidos e a boca sem dentes, e depois de um momento pensativa diz:
Aquela velha sabedoria de que “Boa vida tem o ator pornô” pra mim ta ultrapassada. Um ator pornô já conquistou a realização total da felicidade, já chegou no ponto, não tem graça. Porque não existe expectativa. A felicidade real é ser um cara qualquer que cuida da técnica, que tá sempre por perto, um contra-regras ou iluminador, por exemplo. Sentindo o dia inteiro cheiro de buceta e imaginando com aquela intoxicação maravilhosa toda sonhos de candura e golfinhos pulando da água. É, a felicidade é isto. A eterna possibilidade de imaginar.
quarta-feira, julho 30, 2008
Da Série "Resgate dos mitos populares infantis - ou a sabedoria do folclore do terror n.º 1
Mr. Crowley na caixa. Vento brando na Curitiba silenciosa e vasta.
(Qualquer um que está no quarto faz um comentário como “Este caso é sinistro ou aquele caso é sinistro...”)
O velho do saco apenas dá uma pitada de seu cachimbo, pisca um olho como um cantor que arranha a voz antes de começar a cantar e diz:
Sinistro seria fumar uma bomba, daquelas de deixar você perturbado, e sair na Iguaçu de madrugada para pegar um traveco e ainda por cima, estar sem grana pra pagar. Esta seria uma bad trip total. Posso imaginar toda aquela energia vibrante e um tanto paranóica da cannabis urrando na sua cabeça e você pensando: “Puta merda, tou aqui neste quarto com este traveco, e não tenho grana. O cara vai sacar a arma logo logo (sem duplo sentidos).” Isto seria uma trágica noite curitibana.
(Qualquer um que está no quarto faz um comentário como “Este caso é sinistro ou aquele caso é sinistro...”)
O velho do saco apenas dá uma pitada de seu cachimbo, pisca um olho como um cantor que arranha a voz antes de começar a cantar e diz:
Sinistro seria fumar uma bomba, daquelas de deixar você perturbado, e sair na Iguaçu de madrugada para pegar um traveco e ainda por cima, estar sem grana pra pagar. Esta seria uma bad trip total. Posso imaginar toda aquela energia vibrante e um tanto paranóica da cannabis urrando na sua cabeça e você pensando: “Puta merda, tou aqui neste quarto com este traveco, e não tenho grana. O cara vai sacar a arma logo logo (sem duplo sentidos).” Isto seria uma trágica noite curitibana.
segunda-feira, julho 21, 2008
Breve anotação da madrugada (ou noturno n.º 2)
Eu só vejo loucura por onde passo. É uma patologia de meus olhos, entendem, uma vez que ele é o filtro desse simulacro de realidade chamada vida. Olharmo-nos em espelhos retorcidos, figuras angustiantes produto de suas próprias mentalidades capciosas ou então fogosas, quem sabe? Eu me lembro de Atlantis, ou não, talvez seja Atlântida, diabos, aquela cidade perdida na história e no tempo, a civilização incrível, a destruidora cultural avançada deusa dos verdadeiros homens.
Através de um filtro razoável é possível dialogar com grandes criaturas do passado. Manter aquele, hum, papo amigável (piscada), sem pretensões. Sócrates, por exemplo. Por meio de uma música como “Rear View Mirror” eu consigo cantar o filósofo-mor a cuspir suas realidades possíveis. Com um drible de lábios mafiosos é que é possível encantar o mundo, um meio de solavancar as estruturas sólidas, chacoalhar a cabeça dos que estão enfurnados em máquinas como aquelas de fazer permanente. "No final das contas, teu tempo é um tempo estranho. É um verdadeiro salão de belezas cheio daquelas peruas ostentadoras enfurnadas dentro de máquinas de fazer permanente." O tempo permanente é uma ilusão, caro Sócrates. Necessitamos de uma boa dose da senhora História para cogitarmos uma possibilidade de entendimento de nosso universo próprio. O tempo é intangível, na medida de que ele não aflui sozinho, mas precisa de sopro de vento que lhe empurre. Não importa a direção, mesmo quando damos uma direção certa ao nosso fôlego, há possibilidades de desvio. "Você tenta disfarçar o imenso embaraço que tem pela tua época." Eu estou na época certa, aquela em que precisamente nasci. A época em que nascemos será sempre a perfeita para nós, pelo simples fato de que FOI NELA em que nascemos, entende???
Enfada-me a conversa com Sócrates. Deixo ele para me permitir um prazer mais sincero: um Marlboro e uma cerveja. Talvez seja isso meu tempo, um bocejo seguido de cigarros e cervejas. Enquanto uma vela se apaga lentamente às 05:46 da manhã de segunda feira (bad trips quando lembro disso) eu fico aqui tentando obcecadamente definir meu Tempo. Me embaralho com referências pop, suores ansiosos, pílulas para dormir, um grande contentamento pela uniformização pela passividade, pretensões publicitárias de ativistas pré-históricos, e por aí vai. O fato é que, definitivamente, tento colocar na cabeça que não tenho tempo para este blá, blá, blá todo.
Quem sabe eu não veja só loucura. Existem momentos bons, agradáveis. Atlântida está bem aqui, muito provavelmente nalguma música. Os olhos podem ter filtros, mas os ouvidos não. No fundo, é desta maneira que deve funcionar aqui na nossa economia: arranca-se um braço para poder utilizar outro.
Hora de terminar.
Através de um filtro razoável é possível dialogar com grandes criaturas do passado. Manter aquele, hum, papo amigável (piscada), sem pretensões. Sócrates, por exemplo. Por meio de uma música como “Rear View Mirror” eu consigo cantar o filósofo-mor a cuspir suas realidades possíveis. Com um drible de lábios mafiosos é que é possível encantar o mundo, um meio de solavancar as estruturas sólidas, chacoalhar a cabeça dos que estão enfurnados em máquinas como aquelas de fazer permanente. "No final das contas, teu tempo é um tempo estranho. É um verdadeiro salão de belezas cheio daquelas peruas ostentadoras enfurnadas dentro de máquinas de fazer permanente." O tempo permanente é uma ilusão, caro Sócrates. Necessitamos de uma boa dose da senhora História para cogitarmos uma possibilidade de entendimento de nosso universo próprio. O tempo é intangível, na medida de que ele não aflui sozinho, mas precisa de sopro de vento que lhe empurre. Não importa a direção, mesmo quando damos uma direção certa ao nosso fôlego, há possibilidades de desvio. "Você tenta disfarçar o imenso embaraço que tem pela tua época." Eu estou na época certa, aquela em que precisamente nasci. A época em que nascemos será sempre a perfeita para nós, pelo simples fato de que FOI NELA em que nascemos, entende???
Enfada-me a conversa com Sócrates. Deixo ele para me permitir um prazer mais sincero: um Marlboro e uma cerveja. Talvez seja isso meu tempo, um bocejo seguido de cigarros e cervejas. Enquanto uma vela se apaga lentamente às 05:46 da manhã de segunda feira (bad trips quando lembro disso) eu fico aqui tentando obcecadamente definir meu Tempo. Me embaralho com referências pop, suores ansiosos, pílulas para dormir, um grande contentamento pela uniformização pela passividade, pretensões publicitárias de ativistas pré-históricos, e por aí vai. O fato é que, definitivamente, tento colocar na cabeça que não tenho tempo para este blá, blá, blá todo.
Quem sabe eu não veja só loucura. Existem momentos bons, agradáveis. Atlântida está bem aqui, muito provavelmente nalguma música. Os olhos podem ter filtros, mas os ouvidos não. No fundo, é desta maneira que deve funcionar aqui na nossa economia: arranca-se um braço para poder utilizar outro.
Hora de terminar.
domingo, julho 20, 2008
As tetas e o câncer de mama do meu tempo
“preciosos nódulos de seios
prazer de um degelo
tumba de qualquer desejo”
(em que o autor descobre a patologia de nosso tempo)
escorrendo por esta noite mórbida de céus atômicos, um tanto dóceis, delicados talvez? quem sabe, nesta noite em que temos apenas a presença da rainha branca formigando lá no céu, anões de jardim nas salas de estar dos vizinhos, o amor rebentando, chepas esgotando-se e a preciosa veia artística dos sedutores aflorando em paisagens nuas sem sentido, o ignóbil fruto sedutor dos artistas emergindo de pátios de recreação, com um parquinho bem sotisficado, tem de-se aquelas casinhas toda trabalhadas, com mil e um brinquedos, como o escorregador, a balança feita de pneu, umas argolas esquisitas e toda parafernália. Eis o tempo que se foi, o meu tempo, quando não existiam destas coisas. Mas meu tempo não importa, não é o tempo de ninguém, não pertence aos nodosos bêbados das noites excitantes como um quadro hiper-moderno numa pretensa exposição de arte moderna de uma bienal instigante e grandiloquente (as obras de arte falam, não ficam mudas, é bom ressaltar isto), nem aos insetos intelectuais tsc tscando em torno de nossas orelhas em todos estes lugares meio cool que insistimos de visitar por pensar em qualquer coisa profunda em nós, alheia a toda e vã filosofia, enfim, por merda nenhuma! , não pertence obstante aos decentes homens de terno caminhando austeros e bem resolvidos. Meu tempo não pertence a ninguém! Meu tempo está dissoluto, entranhado em meus dentes para ser mastigado, até eu decidir cuspir esta porcalhada pelos banheiros infestados de vômitos de uma bodega qualquer pelos arredores da city. Não há meu tempo, porque eu ainda não o criei, that´s all.
“flácidos seios
porque a idade veio?
para trazer solidão ao desejo”
(A conclusão de FMAN é atacada pela consciência negra de seu envolvimento com a patologia e documenta a descoberta como “Análises egocêntricas”)
estamos na era das tetas caídas. Pudera, chuparam todas. Eu mesmo dei umas bicadas em algumas por aí, é claro, orgulho inclusive (como na chamada popular) mamar nas tetas do governo por um bom tempo. Há que se mamar também em tetas beatíficas, para termos certa dose de paz espiritual. Para os prazeres da carne,as tetas das ninfas que habitam nosso ecossistema.
Entretanto esta é a era das tetas caídas e eu faço parte dela.
Não há morte mais singela para o artista.
prazer de um degelo
tumba de qualquer desejo”
(em que o autor descobre a patologia de nosso tempo)
escorrendo por esta noite mórbida de céus atômicos, um tanto dóceis, delicados talvez? quem sabe, nesta noite em que temos apenas a presença da rainha branca formigando lá no céu, anões de jardim nas salas de estar dos vizinhos, o amor rebentando, chepas esgotando-se e a preciosa veia artística dos sedutores aflorando em paisagens nuas sem sentido, o ignóbil fruto sedutor dos artistas emergindo de pátios de recreação, com um parquinho bem sotisficado, tem de-se aquelas casinhas toda trabalhadas, com mil e um brinquedos, como o escorregador, a balança feita de pneu, umas argolas esquisitas e toda parafernália. Eis o tempo que se foi, o meu tempo, quando não existiam destas coisas. Mas meu tempo não importa, não é o tempo de ninguém, não pertence aos nodosos bêbados das noites excitantes como um quadro hiper-moderno numa pretensa exposição de arte moderna de uma bienal instigante e grandiloquente (as obras de arte falam, não ficam mudas, é bom ressaltar isto), nem aos insetos intelectuais tsc tscando em torno de nossas orelhas em todos estes lugares meio cool que insistimos de visitar por pensar em qualquer coisa profunda em nós, alheia a toda e vã filosofia, enfim, por merda nenhuma! , não pertence obstante aos decentes homens de terno caminhando austeros e bem resolvidos. Meu tempo não pertence a ninguém! Meu tempo está dissoluto, entranhado em meus dentes para ser mastigado, até eu decidir cuspir esta porcalhada pelos banheiros infestados de vômitos de uma bodega qualquer pelos arredores da city. Não há meu tempo, porque eu ainda não o criei, that´s all.
“flácidos seios
porque a idade veio?
para trazer solidão ao desejo”
(A conclusão de FMAN é atacada pela consciência negra de seu envolvimento com a patologia e documenta a descoberta como “Análises egocêntricas”)
estamos na era das tetas caídas. Pudera, chuparam todas. Eu mesmo dei umas bicadas em algumas por aí, é claro, orgulho inclusive (como na chamada popular) mamar nas tetas do governo por um bom tempo. Há que se mamar também em tetas beatíficas, para termos certa dose de paz espiritual. Para os prazeres da carne,as tetas das ninfas que habitam nosso ecossistema.
Entretanto esta é a era das tetas caídas e eu faço parte dela.
Não há morte mais singela para o artista.
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